Quando saiu o filme “Whiteout” (2009, EUA, Dir: Dominic Sena) traduzido aqui (e não menos problemático por isso) “Terror na Antártida”, o
filme logo me conquistou simplesmente pelo local onde se desenvolvia a
premissa: a Antártida. Isso mesmo, você não leu errado, o filme se passa na
Antártida. Eu nunca tinha visto nenhum filme policial se passar por lá e
explorar tudo de inóspito que o ambiente em particular tem a oferecer.
Infelizmente o roteiro do filme é falho, e a direção insegura aliada a
atuação fraca dos atores contribuiu para que o filme fosse fraco. Felizmente
acabei descobrindo tempo depois que o filme era baseada na Graphic Novel de
Greg Rucka (história) e Steve Lieber (arte). Acabei conseguindo ler o material
que saiu por aqui pela Devir sob o nome (menos problemático, mas ainda correto)
de “Morte no Gelo” (tradução: Kleber de Souza), que me surpreendeu bastante.
Vamos a ela.
Curta sinopse: vivendo na Antártida, na base americana de
Amundsen-Scott, a agente americana Carrie Stetko começa a investigar uma série
de assassinatos junto da agente inglesa Lily Sharpe.
O roteiro de Greg Rucka consegue ambientar e dar credibilidade ao seu
enredo policial fora dos centros urbanos, tão comuns em enredos do gênero, e
seu ponto forte é explorar toda a peculiaridade que existe na Antártida e que
tanto atrapalha a protagonista, incluindo aí o “whiteout” que dá nome a obra
(espécie de nevasca absurda provocada por ventos de mais de 300 km/h que
levanta o gelo acabando com qualquer tipo de visibilidade).
Outra grande sacada é a protagonista: Carrie Stekto não é uma agente
comum, atormentada pelo seu passado e com as suas idiossincrasias que a torna
tão real quanto qualquer um de nós. Rucka também não teve medo de fazer sua
heroína sofrer, e isto em época de publicações como Guerra dos Tronos por aqui,
é admirável.
Steve Lieber consegue retratar os interiores, principalmente das
instalações militares, com boa composição de imagens, seu traço se torna mais
descritivo, porém usando sempre as sombras a seu favor. Quando retrata os
exteriores a descrição dá um pouco de espaço ao contraste entre céu e a neve.
Já quando retrata exclusivamente o gelo, ele é livre, dando ênfase em tudo que
não for branco, creio eu para dar a sensação de se estar perdido, de "falta
de chão". Seu ponto alto é a composição nos “whiteouts” e também durante
as lutas, conseguindo dar personalidade a cada cena com seu traço.
Por fim, a sábia escolha do preto e branco em um ambiente como a
Antártida retrata com competência toda a premissa da obra: como sair de um
labirinto sem enxergar direito?
Único ponto negativo que eu destacaria é que a trama de inovadora tem
pouco, principalmente aos enredos policiais, chegando a ser previsível em
alguns momentos. Mas nada que impeça uma boa apreciação aos amantes do gênero.
Louvável o esforço da Devir em trazer para o Brasil uma Graphic Novel
de alta qualidade tanto de impressão quanto de material artístico.
Nota: 08/10.
Vale a leitura? Sim, principalmente se você quiser fugir um pouco dos
quadrinhos de super heróis e ler algo diferenciado e bem retratado em um
ambiente natural que estamos tão pouco acostumados a ver qualquer mídia sobre,
ainda menos quadrinhos.
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