Contos

Se você está lendo este conto, por favor leia a parte 1 antes, logo abaixo.




Atualização 28/08/2011.



Buraco Negro - Parte 2

O lugar onde estava era muito mal iluminado, com poucos feixes de luz entrando fracos pela fresta entre a porta e o chão, além da luz que se passava por entre a portinhola. Uma pequena janela no alto da parede e cheia de grade indicava que lá fora estava escuro, além de ter poucas nuvens no céu, encobrindo parte da lua, inclusive.
Jonas conseguiu se acalmar, sempre evitando olhar aos outros. Ainda estava chocado com a possibilidade de se ver naquelas pessoas. Variações de si mesmo, com alturas, pesos e idade diferente da sua.
Depois de mais algumas horas, a luz do corredor acendeu, pois reforçou a iluminação vinda da porta e todos ficaram excitados. Em segundos o professor apareceu na abertura de vidro. Com os olhos fez uma varredura pelo local como se procurasse por algo e saiu da visão. De repente, uma portinhola abriu e uma quentinha com comida apareceu como se fosse empurrada com força. Sua imagem voltou ao vidro de cima.
- Essa é só pra ele. - Falou com o som meio abafado pelo outro lado da porta.
- E a gente, professor? - Indagou o mais velho.
- Vocês esperem ai que mais tarde eu trago.
- Ô professor... - Falou o mais velho de novo se levantando e tendo sua face e parte de cima do peitoral iluminado por um feixe de luz que entrava pelo vidro e chegava até a parede.
- Você ainda quer voltar para a sua família, não quer... Velho Jonas? - O velho anuiu. - Quer voltar para a sua realidade, não quer? - Assentiu novamente. - Então, meu querido, sente-se e fique quietinho no seu canto e só saia daí quando eu mandar.
Ele sentou-se novamente, sumindo na sombra. O professor apontou o dedo da mão direita para Jonas.
- Você ai, coma.
Ainda atordoado, ele foi se aproximar da quentinha, com certa dificuldade. Com as mãos tremendo, conseguiu chegar perto. Cheirou para tentar identificar o que era e sentiu arroz, feijão e macarrão.
- Coma... Isso se quiser voltar para aquilo que você chama de vida. - Disse o professor.
- O que é isso que eu vou comer?
- Coma. - Falou mais enérgico. - E não faça mais perguntas.
- Mas profe...
- Coma! Agora!
Jonas começou a comer rapidamente todo o conteúdo com as próprias mãos e em minutos havia limpado a quentinha. Olhou novamente para o vidro e viu que o professor havia saído. Levantou-se e começou a andar pelo local calmamente para tentar ajudar na digestão. Ficou girando em círculos por minutos até se aproximar janela.
Ficou fitando o céu por mais alguns minutos até que começou a se sentir tonto de novo e começou a cambalear. O velho chegou perto dele e Jonas o repeliu com o braço, e então ele o empurrou para perto da porta e ele caiu de bruços. A porta abriu, o professor entrou e chegou ao lado de Jonas. Mexeu em seu ombro fazendo-o sacudir.
- Venha comigo.
Tonto, ele demorou para se sentar e depois se agachar. Com dificuldade se levantou, mas somente conseguiu permanecer de pé apoiando seus braços na parede. O professor passou pela porta e depois que Jonas saiu dali, fechou-a. Andaram pelo corredor até chegar a outra porta, agora de metal.
- Aôd... Isdou... Ído? - Falava pausadamente, entre uma baba e outra, além de perceber que os lábios formigavam. Mas a visão estava perfeita.
- Para cá, meu melhor aluno. - Falou com um sorriso e abriu a porta.
Jonas entrou em outro ambiente que destoava totalmente da casa do professor. Diferente da sala aconchegante ou do quarto mal-iluminado. Ali era muito bem iluminado por luz fria vinda das longas lâmpadas, além dos abajures. Os móveis de madeira eram pintados de branco, assim como as paredes e havia também cadeiras e uma grande mesa de alumínio.
O professor o ajudou a entrar e fechou a porta. Nas paredes, Jonas reparou quadros de cortiça extensos com diversos papéis A4 pregados, incluindo cartolinas, semelhante aquela que ele vira. Estavam todas desenhadas e preenchidas com palavras, números, equações matemáticas e outras com desenhos que pareciam ser de uma cadeira e um capacete.
O que chamou a sua atenção foi que no centro havia uma cadeira de madeira, com estofado de couro, e diversas presilhas de plástico se espalhavam por ela, semelhante as de uma mochila de alpinista. No colo, um capacete de metal. Ele se lembrou do desenho.
- Ô... Gi... Dá... Agondezêdo?
- Ainda não percebeu, Jonas? Pô e eu que achava você era o meu melhor aluno... - E o empurrou para a cadeira central. - Assim você me decepciona, hein?
O professor tirou o capacete de metal da cadeira central e o colocou em cima da mesa de alumínio. Ajudou Jonas a sentar-se com delicadeza e começou a amarrá-lo na cadeira. Apanhou o capacete e quando foi depositar em sua cabeça, ele a virou, foi colocá-lo na outra posição e ele desviou novamente. O professor ficou rindo venda a tentativa de rebelião, até que por fim, cansado, segurou sua face com força e colocou o capacete de metal. Amarrou o objeto passando embaixo de sua cabeça.
- Agora, Jonas, eu quero que você faça uma coisa pra mim.
- Geu... Dão vou... Vazer... Dada! - Falou com certa raiva.
- O que é isso, Jonas? Onde fomos parar? - Se agachou ficando na sua altura a ponto de encará-lo bem de perto. - Olha... Vamos fazer o seguinte, garoto. Você faz isso pra mim, e logo logo eu te devolvo pra sua vida. Que tal?
Jonas cuspiu na sua cara. No cuspe vieram partes da comida semi mastigada. O professor, que havia fechado os olhos por reflexo, abriu-os lentamente e ficou encarando-o com a cara suja.
- Jonas, presta atenção... Ou você faz isso pra mim, ou você faz isso pra mim. Entendeu? Não existe a opção de você não fazer o que eu vou te pedir. Caso você prefira, eu posso também tentar te ameaçar de morte. Eu não sei, sabe, cada um é cada um, as pessoas têm gostos diferentes e eu não sei se é o seu caso ser sado-masoquista. Mas isso não me adianta muito, já que eu quero e preciso que você faça algo pra mim. E morto você não me serve de nada. - Ele foi até o banheiro e lavou sua cara, e retornou secando-a com a toalha de mão. - Então garoto, vamos fazer assim: você vai para outra realidade paralela e pega uma coisa pra mim. E ai, aceita, meu melhor aluno? - Finalizou sorrindo.
- Azeida? Dão denho... Obizão... Denho? Brovezor...
- Claro que você tem, Jonas. Como eu te expliquei antes, você tem a opção de fazer isso da melhor forma possível. E rápido. Eu te analisei muito antes de te escolher e sei do que você é capaz.
- Burguê vozê... Dão bai Indão?
- Eu posso muito bem ir como já fui... Mas eu preciso agora muito mais é que você vá pra mim. Senão, qual utilidade você tem pra mim?
Jonas suspirou.
- O guê é? - Indagou firme.
- Eu vou te mandar para a realidade paralela do seu velho eu. Na verdade é futuro paralelo, pois a realidade é agora, no presente. Enfim... É o mundo daquele chato que enche o meu saco sempre que eu passo pela sala, como agora quando eu fui te pegar. Jonas, você precisa me prometer que quando envelhecer não vai ser tão chato assim, hein? - Suspirou. - Você precisa entrar na casa dele e pegar uma sacola que eu esqueci. A sacola é marrom claro e está em cima do sofá. Entendeu? - Jonas anuiu.
- É zó izu?
- Não. Depois de pegar você tem que levar nesse endereço aqui. - Colocou um papel dobrado dentro do bolso de sua calça jeans. - Ai tem os dois endereços, o do velho Jonas e o outro. Depois disso, acaba.
- Dá bou.
- Esse é o meu aluno. Vamos lá.
- E gôbu eu vazu... Bra voldá?
- Ah, isso você deixa comigo. Se preocupe em pegar a sacola e levar até o lugar. - Ele ia saindo perto dele, mas voltou. - Uma última coisa: afaste suas mãos do corpo e deixe elas abertas.
- Hã?
Com um sorriso cínico, o professor se afastou até chegar a porta. Caminhou por entre as bancadas e apagou todas as luzes dos abajures, e, apertando um interruptor apagou a luz do quarto. Digitou uns botões, acionou uma chave e saiu do quarto. Em segundos, os móveis começaram a estremecer, raios azuis começaram a sair da cadeira onde Jonas estava e em menos de um segundo uma pequena explosão de luz se deu cobrindo todo o quarto.
O professor entrou no quarto e acendeu a luz. Viu que Jonas havia desaparecido, restando somente a cadeira com as presilhas de plástico, com o capacete no colo e sorriu.


Jonas não entendeu muito do que acontecia, ele via imagens rápidas passando na sua frente e algo como se fosse um tubo com diversos tons de azul. Ele tremia e passavam ventos rápidos por ele, bagunçando seu cabelo, fazendo sua roupa sacudir e o impedindo de abrir muito os olhos. Até que de repente tudo parou e ele viu se aproximando de uma imagem especifica que crescia com velocidade.


A esquina da rua estava deserta naquela hora da noite, com poucos carros se passando. Do nada, pequenos raios azulados começaram a aparecer no ar saindo de um mesmo ponto, que começou a crescer se transformando em uma bola e por uma pequena explosão de luz para sumir logo em seguida. Jonas surgiu no ar, a um metro do chão, e caiu na calçada de bruços.
Com aparente dor, ele se virou e colocou a mão na boca, que percebeu estar sangrando. Agachou-se e ficou em pé. Se sentia bem melhor. Estranhou que realmente estava bem. A mão não tremia mais, a tontura havia terminado.
- Onde eu... Estou?
Também conseguia falar direito e os lábios não estavam mais formigando. Passou a mão na cabeça, notando a rua onde estava. Poucos prédios baixos, becos entre eles, e, atrás de si, uma praça. Caminhou até um banco. Viu uma pequena pilha de jornal e instintivamente a pegou e tirou uma pagina. Olhou as matérias, falavam do país. Correu com os olhos até chegar ao topo dela e a largou horrorizado.
- Na... Na... Não. Não po... Não pode ser...


A folha de jornal caiu no chão enquanto Jonas sentava-se novamente, onde podia-se ler: “Rio de Janeiro Quarta-Feira 12/05/2055”. Exatos 43 anos no futuro.







Atualização 20/08/2011.


Novo Conto:




Buraco Negro - Parte 1



- Quer dizer que o futuro é cíclico, então? - Disse aquele mais jovem.

- Não, cíclico não, ele é, a princípio, inevitável. - Falou o mais velho, de barba grisalha. - Quer mais café?
- É... Quero sim. Por favor.
- Açúcar ou adoçante?
- Açúcar.
E o mais velho foi para a cozinha. O mais jovem ficou admirando a sala de sua casa, achou muito aconchegante e confortável. A forma como ele havia decorado o lugar trazia paz ao ambiente. Quadros, móveis de madeira.
- Aqui, café para um dos meus melhores alunos. - E serviu café na xícara de ambos, apoiada na mesa perto do sofá onde estavam. - Café para o Jonas! - E sorriu bebendo um gole.
- Mas então... Sobre o futuro... Quer dizer que ele sempre vai acontecer, não importa o que se faça? - E Jonas bebeu um gole do café.
- É a velha idéia de que se você voltar no tempo e mudar uma pequena coisinha, vai ter aquele blá blá blá todo. Não. O futuro só se altera de verdade quando você tira alguma coisa de seu curso.
- Curso? - O mais velho anuiu. - Como assim, professor? - E bebeu outro gole.
- Olha, parece complicado, mas é bem simples na verdade... Já viu o filme De Volta Para O Futuro? - Jonas negou. - Nunca viu aquele do carro que volta no tempo? - Negou de novo. - Tá... Imagina várias linhas paralelas. Imaginou?
- Aham.
- Não, espera. Isso tem que desenhar.
- Porra, professor, tá me chamando de burro, cacete?
- Não. - E sorriu. - É que pra explicar melhor, realmente tem que desenhar. Deixo pegar aqui uma coisa. Um minuto.
Levantou-se e saiu de novo. Jonas voltou a olhar a sala daquele homem mais velho que o havia trazido para ali depois de uma discussão acalorada no bar da faculdade. Um grupo enorme discutia teorias sobre viagens no tempo e tudo o que poderia acarretar se acontecesse na realidade.
Para ilustrar seus pontos de vista, entre cervejas, refrigerantes e aperitivos, os diversos debatedores citavam filmes, quadrinhos, livros, revistas cientificas ou nerds, enfim, qualquer mídia que proporcionasse as viagens e tudo aquilo que as envolvia.
O professor voltou com uma cartolina e um lápis. O papel estava desenhado de um lado e meio sujo do outro. Jonas já havia tomado o café pela metade. O professor virou-a em cima da mesa com o lado sujo aparecendo o que não estava desenhado.
- Aqui, Jonas. Presta atenção.
Desenhou com um lápis quatro linhas paralelas enquanto Jonas bebia o resto do café.
- Em cada uma dessas linhas, existe uma possibilidade de futuro. - Jonas já ia abrir a boca. - Calma, deixo te explicar. Imagina a sua vida. Na sua vida, você, Jonas, provavelmente já pensou por diversas situações de escolha: “puxa, se eu tivesse feito isso”, “eu deveria ter feito aquilo” e assim por diante.
- É verdade.
- Então, cada escolha que fazemos gera uma linha dessas. E essas linhas começam inclusive antes de nascermos. Foram as escolhas, por exemplo, que os nossos pais fizeram por nós antes de virmos ao mundo e enquanto somos crianças.
- Ah, entendi, professor!
- Aqui, desenhando fica mais fácil.
- Me chamando de burro de novo, professor?
- Não, nada disso. É pra mostrar o ponto de vista. Olha só.
Ele foi riscando com o lápis por cima de uma linha, iniciando da esquerda para a direita, depois passando a outra linha, depois por outra, sempre fazendo força para que seu riscado fosse mais perceptível do que as linhas anteriormente feitas.
- Aqui, Jonas, essa é a nossa vida.
- Correto.
- A parte mais louca: cada escolha que fazemos também gera um “Jonas” diferente que agora está faz parte dessa realidade alternativa. Da realidade do “e se eu fizesse isso ou aquilo”. Imagina se você não tivesse vindo aqui em casa hoje e não estivéssemos tendo esta conversa agora? Em algum lugar, o seu outro “eu” voltou para a sua casa e o meu outro “eu” para a minha e nunca conversamos sobre isso. Quem sabe em outra realidade nós nunca chegamos a nos conhecer. - E sorriu.
- Caraca, professor, que coisa de maluco, hein? Ficar pensando nisso...
- Sim. E é agora que vemos como alterar o futuro. O “Jonas” que continuou em alguma dessas linhas, ele viveu com a escolha que fez, certo? - Ele anuiu. - Mas os outros não, porque fizeram escolhas diferentes. Então eles tem outros futuros. Dai, como fazer para consertar aquele futuro do Jonas que provavelmente fez alguma besteira ou aconteceu alguma coisa trágica na sua vida?
- Como, professor?
- Consertar não dá. Simplesmente não dá.
- Ah, impossível. Eu já vi filmes, li livros... Sempre tem como mudar o futuro.
- Não, não tem. O futuro daquela realidade vai acontecer, Jonas, porque o seu outro “eu” simplesmente fez aquela escolha. Em todas as possibilidades, em todas as realidades alternativas, algum futuro irá acontecer para todos os “Jonas” que estão nelas. A sacanagem que esses filmes fazem é trocar o futuro de uma realidade alternativa por outra. Enquanto o Marty McFly daquele presente fica feliz por estar no futuro que ele quer, que ele deseja e conseguiu alterar, como para salvar o Doc Brown, os outros McFlys se ferram nas outras realidades. E isso é puro egoísmo, uma sacanagem das grandes. O Doc Brown era pra morrer, porra! Salvando ele, o McFly prejudicou outras realidades alternativas. Filho da puta egoísta do cacete esse cara.
- Entendi professor. - Falou Jonas sorrindo.
- Mas o lado positivo do que esses filmes, quadrinhos e livros contam em suas histórias, é, de fato, o que mais existe de possível hoje em dia.
- Do... Do... Possível?
- Sim. O que podemos fazer é escolher um desses futuros que serão escritos e irmos para lá.
- Mas como podemos fazer isso se não podemos viajar no tempo?
- Criando um buraco negro.
- Buraco negro? Mas... Como?
- Você viaja para os outros presentes e futuros e retira dele a mesma coisa... - E olhou para a cartolina apontando. - O tempo-espaço sempre irá se corrigir quando se retira algo, mas veja bem... Peguemos esta cartolina como exemplo. É difícil de eu conseguir retirar esta mesma cartolina de diversos presentes e futuros para conseguir criar esse vácuo, esse buraco negro, e conseguir voltar ao passado. Como saber se é a mesma cartolina? Mas com uma pessoa não. Além de ser mais fácil identificar a mesma pessoa em todas os presentes e futuros alternativos, o tempo-espaço demora muito mais para se corrigir quando se retira uma pessoa. - E sorriu como uma criança, fazendo seus olhos brilharem. Ele olhava para Jonas, que começou a ficar desconfiado.
- Eu... Eu... Acho que vou embora, professor. Obrigado pela aula. - Disse tentando se levantar, mas sentiu uma tontura, sentando-se novamente.
- Calma, para quê a pressa?
A respiração de Jonas começou a ficar mais forte, ele sentiu a tontura aumentar e seus lábios formigaram. O professor olhou seu relógio.
- Agora deve estar bom.
Jonas começou a piscar os olhos com força, e a partir daí não viu mais nada seqüencialmente. Ele via o que sua visão permitia e tentava forçar o olho para ver o quanto pudesse, mas não conseguia por muito tempo.
Viu na seguinte ordem: ele sendo retirado do sofá, sendo arrastado pela sala, passando por um corredor, ele tombando no chão, o professor abrindo uma porta, ele passando pela porta novamente arrastado, ele sendo jogado no chão de um local muito escuro, o professor fechando a porta, e, por último, o professor sorrindo com um olhar infantil. Depois disso apagou.
Acordou depois de um tempo, recobrando a consciência. Ainda estava no mesmo local escuro e sentiu que tinha mais gente com ele e começou a se apavorar.
- Calma, tenta ficar calmo. - Disse um ao se aproximar.
- Quem é você?
- Não fale alto. - Falou outro, este bem mais velho. - Dói meus ouvidos.
- Aonde eu estou?
- Você está preso, garoto. - Completou um terceiro. - Assim como todos nós.
- Quem são todos vocês?
E todos se aproximaram do pouco de luz que tinha. Seis pessoas se revelaram quando a luz tocou nos seus rostos. Não, aquilo não podia estar acontecendo, não podia ser verdade. Ele não conseguia acreditar no que via. Seis Jonas diferentes estavam ali: dois aproximadamente de sua idade, e os outros quatro mais velhos, até um com cabelos brancos e pele enrugada.
- Vo... Vo... Vocês! Não! Não! Sa... Sa... Saiam daqui!
- Não adianta gritar, garoto. Ninguém vai te ouvir. - Falou o mais velho. - E daqui a pouco o professor volta pra te pegar, se prepara.



Pablo Grilo


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Galera,


decidi iniciar essa sessão de contos aqui no blog, onde cada colaborador se quiser pode postar o seu. Aqui vai o meu, espero que gostem.





Andanças por um Local Distante

Ramuel viajava. Andar era só o que sabia fazer. Passeava por entre os países, costumava conversar com as pessoas próximas aos reis, rainhas, tiranos e acabava sabendo meio que sem querer o que pensava todos os diversos soberanos da região.


Parou para beber vinho em uma estalagem da estrada que conectava todos os reinos.

- Ramuel, está sabendo? - Perguntou sussurrando o dono, que atendia os fregueses por trás do balcão.

- De quê?

- Da guerra.

- Guerra, você diz? - E o dono anuiu.

- Mas, porquê?

- Dizem os viajantes que param aqui que algum rei guarda um tesouro. E que todos os outros vão tentar tomar para si.

Isso amedrontou Ramuel, ele não gostava de violência. Decidiu pesquisar a respeito.

Em 2 dias entrou na capital de Hur e procurou por seu conhecido que sabia das coisas, mas não o achou de início. Encontrou um albergue e decidiu que lá se estalaria até que o encontrasse para saber do que pensava o rei e se a tal guerra viria.

- Tem quarto? - Perguntou ao funcionário, que anuiu. - Gostaria de um.

Foi andar pelas ruas com o intuito de procurá-lo. Se maravilhou com a arquitetura dos prédios com até 4 andares, muitas janelas e o domo arredondado. Percebeu como as pessoas que lá viviam eram tratadas pelos funcionários reais. A forma de governar o povo se refletida na rua nos vários empregos que garantiam a sobrevivência de alguns e faziam com que Ramuel entendesse mais sobre aquele local. Não encontrou o informante.

Antes de ir embora, viu alguns centauros adultos, que com espadas na mão, treinavam duro e forte, que segundo seus cálculos seria para a tal batalha. Para não perder tempo e com medo iminente, foi ao próximo reino.

O reino de Har.

Chegou na capital, mas agora tinha em mente achar um velho conhecido, amigo de um amigo, que por si conhecia outro amigo que achava que era um dos conselheiros do rei.

- Ramuel, quanto tempo. - Disse sorrindo. - Venha conhecer minha casa e família.

- Meu velho amigo, não temos muito tempo para cumprimentos. Preciso lhe falar sobre a guerra. - O conhecido mudou de semblante.

- Sim, entre, vou lhe contar o que sei.

Ele entrou. Por lá passou a noite. No dia seguinte, saiu de sua casa satisfeito do almoço e da conversa. Foi andar pelas ruas da capital para tentar achar transporte ao terceiro reino.

Pelo que Ramuel notou, em Har havia prédios maiores, delgados e menos janelas. A rua era menos suja, porém os mendigos eram tantos que se confundiam com os habitantes. Notou alguns bichos esquisitos, como fênix e filhotes de dragões, e quando viu a criação dos animais se lembrou para o que as criaturas seriam utilizadas.

Tremeu.

Respirou fundo e voltou a andar.

E somente depois de 2 dias encontrou quem o levasse ao outro reino para que pudesse continuar sua missão.

Atingiu Her ao meio do dia, ou pelo menos era o que pensava de acordo com os 3 sóis que os iluminavam. Ramuel notou agora que outra arquitetura reinava no país daquele soberano, com prédios altos como Har, porém mais largos, mas com amplas janelas que permitiam entrar a brisa da tarde. Caminhou pelas ruas sujas, com tantos ratos quanto mendigos.

Parou em frente a sede administrativa. Ali, via entrando e saindo pessoas com roupas diferentes e notava pela língua comum falada que eram vários os funcionários governamentais diferentes. Continuou e passou embaixo de um grande aqueduto até atingir a casa de seu informante.

- Chame seu mestre. Diga que Ramuel está aqui.

Enquanto o servo o chamava, ele observava mais quando alguns batalhões passaram por ele rumo ao descampado em frente do grande castelo. Eles só levavam quimeras adultas, porém muitas delas e algumas expeliam fogo pela boca.

- Ramuel, entre rápido. Vamos.

E Ramuel entrou. Sentou-se na sala, e o servo veio com chás e biscoitos para os dois.

- O que se passa em Her?

- É muito complicado, Ramuel.

- Entendo. É pior do que se suspeitava? - O informante anuiu. - O que podemos fazer?

- Não sei.

- E quando começa?

- Acho que em alguns dias.

- Então eu vou. Ainda preciso ir a Hir e Hor, tenho conhecidos por lá que falarei.

- Alguma instrução, senhor?

- Sim, descubra mais sobre o rei e envie-me por ave.

O informante anuiu e Ramuel saiu.

Passou por Hir e não encontrou nenhum conhecido e por lá não ficou nem 1 dia. Mas pelas horas que passou não pode deixar de notar as casas de pedra em que viviam os moradores, e no castelo de mármore em que o rei vivia. Além das roupas dos trabalhadores reais, muito bonitas.

Chegou a Hor a noite depois de 2 dias e meio.

Mesmo preocupado, não pôde deixar de notar a arquitetura. Prédios com aparência sinistra, de cores escuras, ruas mal iluminadas, mas estranhamente não tão sujas quanto os outros reinos. Com poucos ratos e quase nenhum mendigo.

Ele passou por um cercado onde viu quimeras e dragões dormindo.

Agora estava quase aflito.

Correu para procurar seu primo, que trabalhava como consultor de um dos nobres que auxiliava o rei. Parou em frente da sua casa e mandou chamá-lo. O parente veio em questão de minutos.

- Ramuel, o que faz aqui?

- A guerra. O que acontecerá a todos nós?

- Venha que lhe contarei tudo.

Ramuel entrou.


FIM



Pablo Grilo - Julho / 2011